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Somos uma sociedade traumatizada que traumatiza

Autor: CEI Campinas Data: 21/07/2023

Este é um fato que muitos de nós ignoramos, mas que está presente em todos os aspectos da nossa vida. Desde a nossa infância, somos expostos a violência, abuso, negligência e outras formas de trauma. Isso nos afeta de maneiras profundas, moldando nossa personalidade, nossos relacionamentos e nossa visão do mundo.

Quando somos traumatizados, nosso cérebro entra em modo de sobrevivência. Isso significa que nos tornamos hipervigilantes e ficamos constantemente procurando por perigo. Isso pode dificultar a confiança nos outros, a expressão de nossas emoções e a formação de relacionamentos saudáveis.

O trauma também pode levar a problemas de saúde física e mental. Pessoas que foram traumatizadas têm maior probabilidade de sofrer de ansiedade, depressão, transtorno de estresse pós-traumático (TEPT), abuso de substâncias e outros problemas de saúde.

O trauma não é apenas um problema individual. É, antes de tudo, um problema que afeta a todos nós. Quando somos traumatizados, tendemos a repetir os padrões de trauma em nossas próprias vidas. Isso pode levar a ciclos de violência, abuso e pobreza.

Precisamos quebrar esses ciclos. A cultura Restaurativa, que o CEI é defensor, é uma dessas formas. Ela vai contra a vingança, a punição ou retribuição como formas de cuidar da violência, pois entende que o autor da violência é, antes, uma vítima dela. Contrapondo a isso, ela se propõe, através de suas estratégias, a mudarmos a forma como pensamos e nos relacionamos, para curar o trauma que está nos afetando como indivíduos e como sociedade.

As violências estruturais são formas de violência que estão enraizadas nas instituições e sistemas sociais. Elas podem ser difíceis de identificar e combater, mas são tão prejudiciais quanto outros tipos de violência.

Algumas das violências estruturais mais comuns incluem:

Racismo: O racismo é um sistema de discriminação que privilegia pessoas brancas e marginaliza pessoas de outras raças. Ele pode se manifestar de várias maneiras, incluindo discriminação na educação, no emprego, no sistema de justiça criminal e em outros aspectos da vida.

Sexismo: O sexismo é um sistema de discriminação que privilegia homens e marginaliza mulheres. Ele pode se manifestar de várias maneiras, incluindo discriminação no trabalho, na política, na educação e em outros aspectos da vida.

Homofobia: A homofobia é um sistema de discriminação que privilegia pessoas heterossexuais e marginaliza pessoas LGBTQIA+. Ela pode se manifestar de várias maneiras, incluindo discriminação no trabalho, na escola, na família e em outros aspectos da vida.

Pobreza: A pobreza é um sistema que marginaliza e mantem marginalizadas as pessoas que não têm recursos financeiros suficientes para viver uma vida digna. Ela pode se manifestar de várias maneiras, incluindo falta de acesso à educação, saúde, moradia e outros recursos essenciais.

Capacitismo: O capacitismo supõe que as pessoas com deficiência não podem fazer as mesmas coisas que as pessoas sem deficiência. Isso pode ser expresso de várias maneiras, como dizer que as pessoas com deficiência não podem trabalhar, não podem ir à escola ou não podem viver de forma independente.

Violência de gênero: A violência de gênero é qualquer forma de violência que é dirigida a uma pessoa com base em seu gênero. Ela pode se manifestar de várias maneiras, incluindo abuso físico, emocional, sexual e financeiro.

Etarismo: O etarismo é uma forma de discriminação que se baseia na idade. Pode ser expresso de várias maneiras, como fazer suposições sobre a capacidade de uma pessoa com base em sua idade, ou tratar uma pessoa de forma diferente devido à sua idade.

As violências estruturais podem ter um impacto devastador na vida das pessoas. Elas podem levar à pobreza, à doença, à violência e à morte. Elas também podem impedir as pessoas de alcançar seu pleno potencial.

Considerando que essas violências estruturais são sistêmicas, a cultura restaurativa propõe uma forma sistêmica de olhar e atuar sobre elas. Os processos circulares descontroem a dicotomia “vítima ou agressor” e abrem espaços para uma corresponsabilização comunitária pela transformação e superação do ciclo de violência.

Existem, ainda, várias outras coisas que podem ser feitas para romper com as violências estruturais. Algumas das principais ações incluem:

Educação: É importante educar as pessoas sobre as violências estruturais e seus impactos. Isso pode ajudar a aumentar a conscientização e o apoio à mudança.

Advocacy: São importantes a luta e a defesa por políticas e programas que combatam as violências estruturais. Isso pode incluir o apoio a políticas que promovam a igualdade, a justiça social e os direitos humanos.

Participação política: É importante participar do processo político para garantir que os interesses das pessoas marginalizadas sejam representados. Isso pode incluir o voto, o voluntariado para campanhas e o contato com representantes eleitos.

Romper com as violências estruturais é um desafio, mas é possível. O CEI tem procurado ser uma instituição disposta a pensar e agir sobre isso, oferecendo formações, espaços de vivência e implantando em sua metodologia uma abordagem transformadora. A prática de círculos restaurativos no cotidiano dos serviços, o modelo de governança orgânico e circular e a aposta no cuidado integral dos colaboradores e usuários procuram ser o cotidiano e uma obrigação de quem trabalha com a gente.

 

Leonardo Duart Bastos
Superitendente do CEI Campinas