Estamos em 2025, ano de conferências da Assistência Social. Uma chance de enterrar de vez a lógica que transforma direitos em migalhas. Mas atenção: se o microfone seguir nas mãos apenas de gestores e técnicos, com usuários reduzidos a espectadores de palestras, seremos cúmplices de uma farsa. Onde estão as vozes das ruas? Onde está a educação popular que Paulo Freire nos ensinou: horizontal, feita de partilha, não de protocolos engessados?
Não nos iludamos: criar leis é como plantar árvores em solo árido. De que adianta decretar direitos se os profissionais seguem tratando usuários como “casos”, não como sujeitos? Leis podem ser revogadas, manipuladas ou servir a projetos autoritários — como as que criminalizaram pobres e silenciaram dissidentes em regimes fascistas. A verdadeira mudança exige mais: é preciso demolir a pirâmide de poder que coloca o “saber técnico” no topo e o saber da experiência na base.
Que democracia é essa onde o voto se resume a crachás levantados, como se fossem bandeiras de rendição? Se as mesas de debate não têm mães solo, catadores, moradores de rua e quilombolas falando de igual para igual, estamos repetindo a velha caridade, agora com linguagem bonita. A escuta psicossocial não pode ser protocolar, um questionário de prontuário. Precisa ser diálogo vivo, como propõe Freire: horizontal, onde o técnico aprende e o usuário ensina.
Há coletivos que se dizem “organizados”, mas reproduzem a mesma lógica perversa: usuários sem voz, gestores e trabalhadores travando batalhas ideológicas em reuniões intermináveis. Enquanto isso, políticas públicas são decididas em atas que o povo nunca vê. Isso não é justiça social — é guerra de ego, um circo onde o palhaço é quem precisa do SUAS. Para que servem esses espaços se não produzem mudanças reais, só relatórios?
Paulo Freire nos alertou: ninguém liberta ninguém. A política pública não é um presente, é uma construção coletiva. Se as conferências de 2025 não forem ocupadas por rodas de conversa onde o saber da quebrada desmonta o jargão técnico, continuaremos a falar de “protagonismo” como palavra vazia. É preciso mais do que “incluir” usuários: é necessário dividir o poder. Gestores, abaixem os microfones! Trabalhadores, desafiem seus manuais e abaixem também seus megafones!
Chega de eventos onde a “participação popular” é um check-list. Exigimos conferências que pareçam assembleias de moradia, com debate quente, discordâncias e propostas nascidas do chão da comunidade. Que o critério para falar não seja o cargo, mas a experiência. E lembremos: uma política que não aprende com as lutas do povo está fadada a servir ao Estado, não aos direitos.
Não cairemos no conto de que leis bastam. Em 2025, ou assumimos que a mudança vem da ruptura com a cultura do “fazer para o pobre” — substituindo-a pelo “fazer com o pobre” — ou seremos cúmplices de um sistema que usa a Assistência Social para lavar a consciência de uma sociedade desigual. A escolha é clara: continuar fazendo conferências para inglês ver ou transformá-las em trincheiras de luta. Como diria Freire: “Quando a educação não é libertadora, o sonho do oprimido é ser opressor”. Que nosso sonho em 2025 seja mais ousado, seja de liberdade
Presidente do CEI Campinas
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